AS TRÊS MARIAS

 

MARIA (MÃE DE JESUS)

Há uma jovem que me chama muito a atenção por suas atitudes e, por isso, escolhi a vida dela para considerar suas posturas aqui também. Essa jovem é Maria, mãe de Jesus. Muitas vezes temos receio de tomar Maria como fonte de reflexão por causa dos dogmas estabelecidos pela igreja católica para defini-la. Só lembrando que dogmas são questões que foram definidas como “verdade aceitável” por causa de certa aceitação legitimada por autoridades eclesiásticas e pela tradição da igreja. Porém, não cremos, nem aderimos a essas definições. Contudo, esse tipo de pressuposto equivocado não deve nos isentar de considerar essa mulher que foi tão abençoada por Deus. Desta forma, não tomamos como base os dogmas para entender a vida de Maria, e sim as Escrituras Sagradas.

Há poucas referências na Bíblia sobre esta mulher. Apenas alguns relatos nos Evangelho e uma porção no livro de Atos nos mostra de forma resumida um pouco da história dela. Mas, podemos entende através destes que Maria era uma mulher comum que estava desposada, isto é, ela estava noiva e se preparava para seu casamento com José.

Maria era jovem, talvez tivesse de 13, 14 ou 15 anos, pois era com esta idade que os judeus davam suas filhas em casamento. Ela vivia num povoado chamado Nazaré. Era uma moça pobre e simples, mas Deus a escolheu e estabeleceu um projeto glorioso para sua vida, a partir de então sua história nunca mais seria a mesma.

Maria teve o privilégio de ser escolhida para ser a mãe de Jesus, o Messias, e isso não por mérito seu, mas por graça. E assim, certo dia estando em sua casa, de maneira inesperada ela recebeu a visita do anjo que lhe trazia uma notícia que mudaria o rumo de sua existência, a vida daquela jovem nunca mais seria a mesma, pois aquele anúncio traria a Maria a realidade do projeto de Deus para sua história (Lucas 1:26-38).

Maria foi muito privilegiada certamente porque Deus estabeleceu um projeto para a vida dela que a colocava no plano maior de Deus. No maior projeto do universo Deus a incluiu.

E ela ficou maravilhada por poder trazer ao mundo àquele que salvaria os pobres, os humildes e os desprezados (Lucas 1:46-55). E é fato notar que ela foi a única pessoa que esteve com Jesus tanto no seu nascimento quanto na sua morte. (Lucas 2:35)

Diante do que a Bíblia nos ensina sobre essa mulher que recebeu uma missão tão sublime para o projeto que Deus tinha em sua vida podemos aprender quais foram suas respostas a este projeto, e assim entender que:

OBEDIÊNCIA EM INTEIRA DISPOSIÇÃO - Maria mostra está disposta a obedecer ao projeto que Deus tinha para sua vida. Ela diz: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. Ela era uma jovem, uma adolescente e certamente não tinha muita habilidade para ser mãe, quanto mais do Filho de Deus, mas sua disposição era o que Deus queria, e isso faria com Deus a capacitasse. Deus não está interessando em capacitação tanto quanto está em disposição. Deus quer que você se disponha e o resto Ele fará. É natural nos sentirmos incapacitado diante dos projetos de Deus, pois é algo divino para ser vivido dentro do humano, mas para isto Deus vai sempre prover a capacitação necessária.  Maria diz cumpra-se conforme a tua Palavra. Essa frase implicava uma obediência que implicaria em muitos riscos para ela, e ela estava ciente de cada um deles. Pois, para fazer a vontade de Deus há sempre um preço a pagar. Sempre foi assim ao longo da história da igreja àqueles que ergueram a bandeira da obediência ao Senhor Deus. E Maria sempre soube das dificuldades que ela enfrentaria. Vejamos quais:

a)    Risco de ser censurada pelo povo. Ao aparecer grávida na cidade de Nazaré Maria estava exposta às mais desprezíveis censuras, pois temos que lembrar que o anjo apareceu somente a ela, e não ao povo de um modo geral. Imagine explicar uma gravidez, não explicável, para sua família e para a vizinhança, como ela faria isso? Como ela diria que estava grávida de um tal de Espírito Santo? O que iriam dizer de uma jovem virgem e santa que agora aparece grávida e não era nem do noivo? Sem falar que aquele era um fato inédito na história de Israel sem precedentes na história do povo. Provavelmente, Maria passou um tempo da sua vida sob uma nuvem de suspeita por parte da família e dos vizinhos.

b)    Risco de ser abandonada pelo seu noivo, José, por não acreditar em sua gravidez milagrosa. Maria também tinha que enfrentar o homem que amava e lhe dizer que estava grávida e que ele não seria o pai. Fico imaginando a situação, e que situação, Maria vai dar a ´notícia para José: meu amor estou grávida! E é claro você não é o pai. Certamente, não foi fácil para ela! Mas ela estava disposta a sofrer o desprezo e a solidão em obediência a vontade de Deus para sua vida. Que exemplo lindo de obediência! E o que ocorreu foi o que talvez ela já esperava, José não acreditou em Maria, e resolveu abandoná-la(Mt 1:19). Mas, Deus proveu o que seria necessário para aquele momento, e enviou seu anjo que apareceu para José e lhe contou a verdade e ele creu na mensagem do anjo e nas palavras de Maria (Mt 1:20).

c)    Risco de ser apedrejada em público. Por ser uma jovem educada nos preceitos da lei judaica, Maria conhecia muito bem o que dizia Dt 22:23,24:“Se houver moça virgem desposada e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela, trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis até que morram: a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo. Assim exterminarás o mal do meio de ti”. E assim, o risco de Maria ser apedrejada era enorme, pois esse era o castigo para uma mulher adúltera. Como ela já estava comprometida com José (Mt 1:19), ele poderia, com base nos ditames da Lei Mosaica, mandar apedrejá-la.

 

Percebe-se que Maria dispôs-se a pagar um alto preço por sua obediência ao projeto de Deus. Mesmo isso lhe custando a própria vida ela vai até o fim. Maria era uma jovem pobre, agora grávida, com o risco de ser abandonada pelo noivo e apedrejada pelo povo. Mas ela não abre mão de ir até o fim, de lutar até a morte, de sofrer todas as dificuldades possíveis para cumprir o projeto de Deus para sua vida. É claro que certamente ela confiava que Deus faria a proteção necessária. E Deus fez, mas nos admira a atitude dela em meio a todo este conhecimento.  Com as nossas vidas também é assim. O projeto de Deus sempre implicará em grandes desafios, em enfrentar muitas e diversas dificuldades, mas o importante é não desistir e ir até o fim.

OBEDIÊNCIA EM INTEIRA HUMILDADE

A postura de Maria é se considerar serva “Eis aqui a serva do Senhor”. Maria se considera serva e nada mais que isso. Ela nunca se considerou senhora, aliás como pode uma serva se considerar senhora? Maria não se considera melhor do que ninguém nem maior, apenas agraciada, conforme o anjo diz. Pois, o sentido do texto é de alguém que havia recebido uma “graça” especial de Deus, ou seja, seu favor imerecido.  Não que Deus olhou para Maria e viu nela a pessoa mais capaz do mundo, certamente ela era sim, uma jovem obediente, mas quando Deus resolveu estabelecer este plano para ela, Ele certamente não fez isto por merecimento próprio. Que privilégio, certamente, Maria tinha agora em sua vida, de modo que ela diz em seu cântico que todas as gerações a mencionariam e se lembrariam dela como bem-aventurada, ou seja, abençoada, ou ainda, mais que feliz (Lucas 1.46-56). Depois de tanto tempo de promessas e de alianças, agora Deus cumpriria a sua maior promessa anunciada aos patriarcas e proferida durante séculos pelos profetas. Que privilégio esta jovem agora tinha em suas mãos. Sua história agora iria entrar para a história da salvação de Deus que estava se desenrolando desde os tempos de Adão quando Deus prometeu que “da semente da mulher levantaria um varão que esmagaria a cabeça da serpente” (Gn 3.15). E um dia ela recebe a notícia que ela seria esta mulher. História que Maria conhecia muito bem, pois ela vai mencionar muitas evidências dessa história em seu cântico “Magnificat” (Lucas 1.46-55) Talvez ela tivesse muitos motivos para se exaltar humanamente encarando a situação, mas mesmo diante de tudo isso, Maria se considera apenas serva. Pois, ela entendeu que o projeto de Deus em sua vida fazia parte de Seu plano maior. Que lindo exemplo de humildade.

MARIA (IRMÃ DE MARTA)

Maria irmã de Marta é outra mulher que nos chama a atenção. Ela não aparece muitas vezes nos evangelhos, mas as poucas ocasiões são suficientes para ver o seu exemplo de devoção a Cristo. Certa vez, Jesus foi visitar esta família. Lázaro não aparece na cena, Marta é mencionada, e sua atitude também.  Ela estava preocupada tentando dar conta dos preparativos de um banquete para receber o mestre, sua atitude não era reprovável, mas talvez se comparada a atitude de sua irmã Maria deveria ser repensada. Maria, estava ali, assentada aos pés do mestre, ela só queria ouvi-lo. Ela não estava esperando um milagre como tantos outros vieram a procura, nem queria ser alimentada por pães e peixes. Não queria confrontá-lo com perguntas perniciosas como tantas vezes fizeram os fariseus, saduceus e escribas.

Maria só queria aprender, beber da fonte que agora estava ali em sua casa, e certamente ela não iria deixar passar a oportunidade. Maria nos ensina a pensar nas coisas essenciais da vida, e é claro que não há nada mais essencial do que o Senhor. Ouvi-lo, aprender Dele, andar com Ele. Ela nos mostra o que verdadeiramente é mais relevante, que é estar aos pés do Senhor e desfrutar Dele.

MARIA (MADALENA)

Maria Madalena talvez nem deveria entrar nessa galeria. Era uma mulher de quem Jesus expulsou sete demônios (Mc 16.9), mas que um dia foi alcançada pela graça de Deus. Ela ficou estigmatizada como uma prostituta, porém a Bíblia nada fala sobre isso. Ela é associada a pecadora que ungiu os pés de Jesus (Lc. 7. 35-50), mas não há nenhuma clareza sobre isso. Sua história também é bem sucinta, e dentre esses poucos momentos um me chama mais a atenção. Ela foi a primeira testemunha da ressurreição. E é nesta ocasião que posso destacar as lições mais lindas desta mulher. Na manhã da ressurreição ela foi ao túmulo, mas nem imaginava o que tinha acontecido. Ela fora para colocar especiarias do corpo de Jesus. Quando todos, fugiram e foram se esconder por causa do medo de ser pegos também, enquanto Pedro o negou, Judas o traiu, ela estava ali e confessando a sua fé.

Quando ela chega no túmulo o cenário que encontrou era diferente do que ela esperava, o sepulcro estava aberto e alguém parecia ter tirado o corpo de Jesus do lugar. Mas de repente alguém aparece, pensava ela ser o jardineiro, então ela pergunta para onde tinham levado o corpo do seu Mestre, Que expressão linda de um amor legítimo e sincero, pois mesmo achando que Jesus estava morto ela ainda era o Mestre. Mesmo morto ela ainda lhe era fiel, mesmo morto Ele era seu Senhor e era precioso para ela. Veja que como morto Ele não podia realizar milagres, curar, multiplicar pães e peixes, não poderiam fazer mais nada. Além do mais na ocasião Jesus parecia ser um fracassado, alguém que teve seus ideias frustrados pelas deliberações politicas e religiosas. Até porque dentro da perspectiva messiânica alimentada na época, Jesus era somente um idealista que teve seus projetos abortados. Mas para Maria não, Ele era o Mestre, ainda era o Mestre. Não importava o que tinha feito com Ele, mas o que Ele simplesmente era.

Então o suposto jardineiro fala: Maria! E como uma ovelha que reconhece a voz do seu pastor ela exclama: Rabboni! Ele era mesmo o seu Rabboni. E sempre será.

 

Miss Gilmara Bezerra