ESTUDO BÍBLICO: O DEUS DE JACÓ
ESTUDO BÍBLICO: O DEUS DE JACÓ
Profª Gilmara Diógenes
Texto: Ex. 3. 6 e 15
Introdução: Uma verdade maravilhosa a se aprender não é sobre quem é Jacó, mas que é o Deus de Jacó, pois a ênfase das Escrituras não é a pessoa, mas ao Deus que se manifestou em sua vida. A expressão o “Deus de Jacó” que em muitos momentos vem só, como no caso de alguns Salmos (Sl 46.11), mas em outros agrupada com o “Deus de Abraão e Isaque”, nos faz entender que não é nestes personagens que se deve a centralidade da verdade expressa aqui, mas ao Deus que se revelou a estes e como tal se manifestou por meio de experiências maravilhosas. Deste modo, esta expressão tinha a ver com a forma como Deus se apresentava, pois existia a concepção da existência de muitos deuses pagãos, mas o Deus dos patriarcas era o único Deus verdadeiro e era a Ele que se deveria devotar todo crédito. Então as manifestações divinas nas vidas destes personagens se traduziam num sermão que servia de base para compreender quem era seu Deus e por meio disso se deveria crer absolutamente Nele. No texto em destaque é assim que Deus se apresenta e ordena que Moisés O apresente ao povo também, desta forma isso cria um referencial sobre sua pessoa e mostra que o mesmo Deus dos patriarcas era o Deus de Moisés. Ele não é qualquer deus, Ele é o Deus dos pais da nação, isso também despontaria a ligação de Moisés com os patriarcas evidenciando que tudo fazia parte de um mesmo plano e assim seria também a libertação do povo da escravidão (CHAMPLIN, 2001). E desses pais era Jacó. Mas entender Jacó também nos faz entender seu Deus, pois nas experiências que Deus teve com Ele podemos ver quem é seu Deus.
Para começar a entender isso devemos saber quem era JACÓ (Gn 25-50):
• Era irmão mais novo de Esaú, porém foi escolhido como o portador da bênção (Gn 25:23).
• Comprou o direito de primogenitura (25:33)
• Enganou seu pai Isaque (27: 18-27)
• Fugiu para Pada-Harã (27:43 1 28:5)
• Teve uma visão e fez um voto (28:10)
• Fez negociação com Labão (cap. 31)
• Lutou com o Anjo do Senhor (32:34)
• Reconciliou-se com Esaú (cap.33)
• Desceu ao Egito e o encontro com José, seu filho (cap. 46)
• Morreu e foi sepultado (49:33 -50: 13)
Se observarmos direito veremos que o currículo de Jacó não parece muito apreciável, o que mostra que ele era alguém igual a nós, mas foi a este homem cheio de fraquezas que Deus escolheu para compor a história da salvação, pois dele sairia o povo de onde viria o Messias, e assim, para o cumprimento disso, Deus resolveu se manifestar na história da sua vida. Vejamos agora quem é o Deus deste homem destacando alguns momentos destas manifestações:
1- O DEUS DE JÁCÓ É DEUS DE COMPROMISSO (Gênesis 28.10-22)
Este texto relata o momento em que Jacó estava fugindo de seu irmão Esaú devido ao fato de Jacó ter tomado a benção do direito de primogenitura devido a Esaú que era o primogênito. Diante deste momento de trapaça Deus não abandonou Jacó e ali quando ele dormiu deu a ele um sonho no qual fez grandes promessas para sua descendência e nestas promessas se comprometeu em cumprir a mesma promessa feita a Abraão e a Isaque. (v.13-15). E desta forma, Jacó quando acorda e se dá conta do que tinha acontecido também faz um compromisso com Deus por meio de um voto.
Precisamos entender que Deus se compromete com o que Ele promete, não simplesmente conosco, mas com a sua palavra, e Ele também espera de nós compromisso. E Jacó assume um compromisso com Deus dizendo que Ele seria o seu Deus se ele fosse bem sucedido em tudo e também voltasse em paz para a terra de seu pai, então ergue uma pedra (v.18,19), e promete o Dízimo (v.20-22), em fidelidade e gratidão, como Abraão fez.
2- O DEUS DE JACÓ É DEUS ABENÇOADOR (Gênesis 32.22-32)
Jacó depois teve outro encontro com Deus. Despois que passou anos na casa de Labão agora ele regressa e assim precisava se reconciliar com seu irmão Esaú. Então ele se depara no vau de Jaboque numa luta com o próprio Deus, aliás é Deus (Teofânia) que luta com Jacó, e porque Deus faria isso? Isto poderia ser porque Deus queria mostrar a Jacó que ele não seria bem sucedido se não tivesse a benção de Deus em sua vida em tudo. Nesta luta, a intenção é suplicar para que o abençoe para realizar este encontro, visto que depois de 14 anos ele não sabe se seu irmão ainda quer mata-lo, caso Esaú ainda tivesse sentimento de vingança tudo que Jacó levava, sua família e seus pertences poderiam ser destruídos. De acordo com Granconato (2009) este evento marcou a vida de Jacó e seu povo para sempre:
Na noite que antecedeu o encontro de Jacó com Esaú, algo curioso aconteceu. A Bíblia diz que Jacó passou a madrugada toda lutando com um homem, junto ao ribeiro de Jaboque. Quando o homem viu que não podia dominá-lo, deslocou-lhe a coxa e disse: "Deixe-me ir, pois o dia já desponta." Jacó, porém respondeu: "Não te deixarei ir até que me abençoes." O homem, então, mudou o nome de Jacó para Israel, que significa "ele luta com Deus", e o abençoou. Jacó ficou cheio de temor e chamou aquele local de Peniel (a face de Deus), pois disse: "Vi a Deus face a face e, todavia, minha vida foi poupada." Ele, então, seguiu caminho mancando, em virtude do ferimento na coxa. Segundo o texto, esse foi o motivo pelo qual os israelitas deixaram de comer o músculo ligado à articulação do quadril[1].
Então também entendemos que por se tratar de uma Teofânia, ali está Jesus pré-encarnado e foi Ele que se encontrou com Jacó para abençoá-lo (Oséias 12.3,4). Acima de tudo era que Deus que queria abençoar Jacó. Mais do que Jacó desejava ser abençoado, era o próprio Deus que queria isto.
Jacó precisou lutar para receber a benção de Deus e foi ali que seu nome foi mudado para Israel, “ele luta com Deus”. Jaboque, naquele momento se tornou o senário da luta de um homem com o próprio Deus, e o lugar da bênção manifesta em resultado desta luta. E em seguida aquele lugar se torna Peniel onde um homem contempla a “face de Deus”.
Precisamos aprender que o Deus de Jacó é o que abençoa e que devemos buscar a sua benção antes de fazer qualquer coisa, pois só assim seremos bem sucedidos.
3- O DEUS DE JACÓ É DEUS DE CONVERSÃO (Gênesis 35.1-15)
Para o Dr Shedd (1997) todo capítulo 35 admoesta sobre os perigos do mundanismo na vida do cristão, mesmo depois de se prometer votos ao Senhor, como Jacó tinha assumido ali anos antes quando fugia de Esaú. Mas é no retorno aquele lugar que Jacó toma atitudes mais concretas, ele purifica a todos tomando os ídolos e tudo que se relacionava a eles, purificando definitivamente sua vida. Esse é um momento de verdadeira conversão.
Algumas marcas deste encontro foram:
-Arrependimento (v.2-4), tirando todos os deuses estranhos;
-Mudança De Nome (v.10), lembrando-lhe que seria chamado Israel;
-Bênção (v.11,12), promessa de receber a bênção de Abraão;
4- O DEUS DE JACÓ É DEUS DE GRAÇA (Mateus 1.2)
A genealogia de Jesus do evangelista Mateus cita a linhagem de José, pois o propósito é mostra Jesus o herdeiro legítimo do trono de Israel. A genealogia coloca apenas os nomes mais conhecidos mencionando 42 gerações num período de 2000 anos. A divisão abrange três seções de 14 gerações. O primeiro grupo de Abrão a Davi, o segundo de Davi ao exílio babilônico e o terceiro abrange 600 anos até Maria e José. (SHEDD, 1997)
Mesmo com todas as dificuldades de caráter, e falhas que cometeu Jacó foi parar na genealogia de Jesus. Nos chama a atenção que Jesus tenha em sua família um homem como Jacó, e isto é expressão da graça de Deus. Jacó não merecia está nesta galeria, como o restante é claro, mas dos muitos colocados ali ele talvez seja um dos piores. Do mesmo modo, precisamos compreender este Deus de graça que se relaciona conosco assim como foi com Jacó.
5- O DEUS DE JACÓ É DEUS DA ETERNIDADE (Lucas 20.37-38, Mateus 22:32, Marcos 12.18-28)
Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos! – (Lucas 20.37-38, Mateus 22:32, Marcos 12.18-28)
Nesta ocasião Jesus está sendo inquirido pelos saduceus que tinha como conceito teológico a descrença na ressurreição dos mortos. Deste modo, ele se dispõe a responder uma pergunta: Então os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele, e perguntaram-lhe, dizendo: Marcos 12:18-28. Vale ressaltar que os saduceus se destacam por duas características principais, não acreditam na ressurreição, e aceitavam apenas o Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia como palavra de Deus.
A finalidade não era resolver dúvidas teológicas, mas colocar em prova o ensino sobre a ressurreição, deste modo eles colocam diante de Cristo a história de uma mulher que casou com os vários irmãos na medida em que iam morrendo, e se a ressurreição existe de fato então de quem essa mulher seria esposa no paraíso? A ideia é que parece ilógica a ressurreição diante deste fato.
E Jesus, responde: Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus? Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento… Marcos 12:24,25. A resposta do Mestre é simples e deixa claro que a eternidade não é continuação desta vida. Portanto o argumento dos saduceus era totalmente inválido para descredenciar a ressurreição.
Como Jesus era ciente de que os saduceus acreditavam apenas no Pentateuco, ele utiliza então o livro de Êxodo para lhes responder e invalidar completamente a crença deles: E, acerca dos mortos que houverem de ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Marcos 12:26-26. Disse ainda: “Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó”. Êxodo 3:6.
Mesmo os patriarcas estando mortos Deus ainda era seu Deus, isso indica que eles são eternos, e assim Deus se referiu a Abraão, a Isaque e a Jacó como se ainda estivessem vivos, ou poderia ser entendido como: Abraão, Isaque e Jacó estão entre os que vivem, ou viverão (HENRICHESEN, 1997). Aí está o argumento da ressurreição. Eles não foram extintos com a morte há uma ressurreição que os espera. Um futuro eterno e glorioso os aguarda.
Da mesma forma devemos entender que a eternidade aguarda os filhos de Deus e quando Jesus ressuscitou, Ele nos garantiu isso sendo as primícias dos que dormem. (I Co 15.23)
CONCLUSÃO: Que possamos abrigar a nossa vida nestas verdades, pois o Deus de Jacó é o nosso também e da mesma forma que se manifestou a este, Ele se manifesta na história da nossa vida, entendendo que os princípios destacados nestas experiências se evidenciam nas Escrituras aos cristãos de todas as épocas.
FONTES:
BIBLIA SHEDD. Edição João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada. São Paulo: Vida Nova, 1997.
CHAMPLN, Russell Norman. Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Ed. 2. São Paulo: Hagnos, 2001. Vol. 1.
GRACONATO, Marcos. A luta de Jacó com Deus. Disponível e< https://igrejaredencao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=79:a-luta-de-jaco-com-deus&catid=18:historia-da-biblia&Itemid=112> Acesso em 30 de mar. de 2017.
HENRICHESEN, Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia, Editora Mundo Cristão, 7a edição - São Paulo, SP, 1997.
O que significa Deus não é Deus de mortos, mas sim de vivos? Disponível em< https://bibliacomentada.com.br/index.php/o-que-significa-deus-nao-e-deus-de-mortos-mas-sim-de-vivos/> Acesso em 30 de mar. de 2017.
[1] Disponível em: https://igrejaredencao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=79:a-luta-de-jaco-com-deus&catid=18:historia-da-biblia&Itemid=112. Acesso em 30 de mar. de 2017.