ESTUDO NO SERMÃO DO MONTE - "O MODO EXTRAORDINÁRIO DE VIDA DO REINO DE DEUS"

ESTUDO NO SERMÃO DO MONTE

Introdução 

O Sermão do Monte tem como finalidade principalmente apresentar os princípios e valores do Reino de Deus. No Antigo Testamento aparece apenas como ‘Reino do Senhor’ (I Crônicas 28.5; II Crônicas 13.8; Obadias 1.21). Em Daniel vamos encontra o conceito geral que deu origem a estes termos, o profeta anunciou um “domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído” (Daniel 7.14) e que os servos de Deus fariam parte deste reino Divino (Daniel 7.14, 18, 22, 27).

No NT as expressões ‘reino de Deus’ e ‘reino dos céus’ tem sentido sinônimo. A palavra Reino vem do hebraico: malkût  e do grego basiléia.  Quanto ao NT a expressão a expressão “reino dos céus” é usada em Mateus 31 vezes, já “reino de Deus” é usa 4 vezes em Mateus, 15 vezes em Marcos, em Lucas 32 vezes e em João 2 vezes, em Atos 6 vezes e nas cartas de Paulo 8 vezes, o que traz um total de 98 vezes, sem contar as inúmeras vezes onde só aparece reino. O sentido da palavra reino é domínio ou reinado, que se diferencia de um governo político e tem propostas mais espirituais e morais.  Algumas citações se referem ao presente do reino e outras apontam para o futuro. Estes dados revela a importância do tema para Jesus e os apóstolos, e assim se pode entender que era a doutrina central do NT.

Falando sobre o reino e a igreja, precisamos primeiro definir a igreja. A igreja é o conjunto daqueles que creem em Cristo e que se associam uns aos outros por causa da sua fé comum. À luz das Escrituras, a igreja é uma realidade essencialmente corporativa, comunitária. Ela é descrita como o corpo de Cristo, a família da fé, o povo de Deus, um rebanho, um edifício e outras figuras que acentuam o seu caráter de comunidade e solidariedade. (Matos, 2014).

O Novo Testamento não identifica a igreja com o reino de Deus. Obviamente há uma relação entre ambos, mas não uma coincidência plena. A igreja tem limites claros, assume formas institucionais, tem líderes humanos. Nada disso se aplica ao reino de Deus, que é mais intangível, impalpável. Este é uma realidade que transcende os limites da igreja e que pode não estar presente em todos os aspectos da vida da igreja. É como dois círculos que se sobrepõem em parte e que se afastam em parte. Historicamente, a igreja por vezes tem se harmonizado com o reino, outras vezes tem estado em contradição com ele. (Matos, 2014). O sermão do Monte nos traz uma linda abordagem sobre uma definição do Reino de Deus:

  • Quem primeiro aplicou este termo “Sermão do Monte” foi Agostinho de Hipona.
  • Narrativas do NT: Mateus cap. 5, 6 e 7, Lucas 6. 20-49 e Marcos 9.49-50.
  • Ambos os relatos de Mateus e Lucas podem ser discurso diferentes ou são um compêndio de vários discursos de Jesus (Calvino).
  • Jesus sobe ao monte para ensinar: Como mestre (assentou-se), aos discípulos, não as multidões.
  • O discurso se concentra em esclarecer os padrões do “Reino de Deus” (ou Reino dos Céus)
  • O Reino de Deus diz respeito ao seu governo na vida do discípulo.

 

É possível identificar qual o padrão do Reino de Deus para assim o buscarmos numa atitude de vivê-lo. Neste sermão encontramos o padrão de Deus para a vida de seus servos em contraste com os que não são. De acordo com Sttot (1981, p.9):

Não há um parágrafo no Sermão do Monte em que não se trace este contraste entre o padrão cristão e o não-cristão. É o tema subjacente e unificador do Sermão; tudo o mais é uma variação dele. Às vezes, Jesus contrasta os seus discípulos com os gentios ou com as nações pagãs. Assim, os pagãos amam-se e saúdam-se uns aos outros, mas os cristãos têm de amar os seus inimigos (5:44-47); os pagãos oram segundo um modelo, com "vãs repetições", mas os cristãos devem orar com a humilde reflexão de filhos do seu Pai no céu (6:7-13); os pagãos estão preocupados com as suas próprias necessidades materiais, mas os cristãos devem buscar primeiro o reino e a justiça de Deus (6:23, 33).

 

TEMA: O MODO EXTRAORDINÁRIO DE VIDA DO REINO DE DEUS

 

1.      O CARÁTER NO REINO – AS BEM-AVENTURANÇAS (MT 5.1-12)

“Bem-aventurado (makarious) significa mais que feliz, abençoado” – A ideia é de provação diante de Deus. Quem são os mais que felizes?

 

  • Os pobres de espírito – os humildes que reconhecem que em tudo dependem de Deus.
  • Os que choram – são os que sentem tristeza por suas misérias e pela dos outros.
  • Os mansos – são os serenos, que exercem autocontrole, paciente nos relacionamentos e que não tem prazer em revidar.
  • Os que têm fome e sede de justiça – anseiam o que é justo e digno. Anseiam acima de tudo a justiça de Deus.
  • Os misericordiosos – são aqueles que demonstram compaixão em meio as misérias dos outros.
  • Os limpos de coração – pureza interior, conseguem conhecer e perceber Deus. Verão a Deus pela fé e na era vindoura.
  • Os pacificadores – os que promovem ativamente a paz.
  • Os perseguidos por causa da justiça – perseguidos por causa do Evangelho (ou do que é justo?).
  • Os que são injuriados, perseguidos e difamados por causa de Jesus – os que sofrem por causa de Jesus receberão recompensa. Identificação com os profetas.

 

2.      A INFLUÊNCIA NO REINO – SAL E LUZ (Mt 5.13-16)

 

Sal e luz = Como se portar influenciando diante da vida (Mt 5.13-16)

  • Sal da terra – funções do sal: Sabor aos alimentos - Conserva os alimentos evitando a deterioração.
  • Luz do mundo (candeia / cidade sobre o monte) – função da luz: Iluminar - Uma candeia no velador não debaixo do alqueire - Notável - Uma cidade sobre o monte não dá para não perceber

 

 

3.      A CODUTA NO REINO – A LEI DE CRISTO (MT 5.17-48)

  • A importância da lei para Jesus: Ele a cumpriu para ser a nossa justiça (Rm 3.21-31), cumpriu toda a lei – cerimonial, civil e moral. Como mestre ensinou a lei moral.
  • Ele confrontou as más interpretações feitas pela tradição oral. Sttot (1981, p. 37) Argumentando sobre isso declara: “[...] temos a fórmula introdutória, começando com ou­vistes que foi dito aos antigos (vs. 21, 33), ou ouvistes que foi dito (vs. 27, 38, 43); ou, mais resumidamente ainda, também foi dito (v. 31). As palavras comuns para estas fórmulas são foi dito, que representam o verbo grego errethé. Esta não era a palavra que Jesus usava quando citava as Escrituras. Ao apre­sentar uma citação bíblica, tanto o verbo como o tempo eram diferentes, isto é, gegraptai (perfeito, "está escrito"), e não errethé (aoristo, "foi dito"). Nas seis antíteses, o que Jesus con­tradizia não eram as Escrituras, mas a tradição; não a palavra de Deus que eles tinham "lido", mas a instrução oral que fora dada "aos antigos" e que eles também tinham "ouvido", uma vez que os escribas continuavam ensinando-a nas sinagogas”.
  • O discípulo deve cumprir e ensinar a lei moral como padrão do Reino de Deus.
  • Para cumprir são necessárias duas coisas:

 

1. O discípulo deve examinar os verdadeiros modelos que obediência. Nunca o modelo dos fariseus – Jesus criticou nos fariseus:

  • A transgressão da lei – Mc 7.8-13
  • O seus 613 mandamentos da LEI e sintetizou os mandamentos em dois - Mt 22.34-40
  • O desprezo pela graça -  Mc 2.15-17
  • A postura separatistas - Mt 9.12
  • A hipocrisia - Mt 23.23
  • A prioridade ao desnecessário – Mt 23.23
  • A sua doutrina – Mt 16.1-12

 

2. Entender o real sentido da lei

  • Jesus vai esclarecer o real sentido da lei mostrando que seu comprimento começa no interior e não no exterior.
  • A intenção não é anular a lei, mas compreender como deve ser seu cumprimento (21-22).
  • O verdadeiro entendimento é que a obediência se expressa em ação, sentimento, pensamento, motivação ou palavra, por isso:

 

Matar alguém pode ocorrer em: sentimentos (ira), insultos (raca - provável significado seria ódio) palavras (tolo). Para Deus o pecado através da intenção vale tanto quanto da ação.

Adulterar com alguém pode ocorrer em: Desejo ou intenção – começa no coração (27-28)

O juramento (33-37) – deve haver honestidade no falar, devemos ser pessoas de palavra sem necessidade de juramentos.

A vingança (38-42) “olho por olho” – este princípio foi estabelecido dentro da legislação de Israel e tinha dois propósitos = produzir temor e evitar a vingança pessoal, pois era exercido pelas autoridades. Jesus está proibindo a vingança.

O bem e o mal (40-42) - Não revidar o mal - Não negligenciar o bem

O amor

Os maiores desafios do amor são:

a)      Amar o inimigo – não havia ordem na lei para odiar o inimigo somente alguns recomendações no VT(Sl 139.21-22), a não ser na tradição oral dos fariseus.

b)      Orar pelos que nos perseguem

c)      Fazer o bem para quem nos faz o mal (abençoar quem amaldiçoa)

  • Estas atitudes podem não mudar o inimigo, mas nos muda em relação a eles e evidencia que somos filhos de Deus.
  • O desafio do discípulo é agir e reagir diferente dos padrões do mundo.
  • Agir a semelhança de Deus, pois o amor de Deus é o verdadeiro padrão do amor.
  • Nisto está a busca da perfeição. E é assim que nos pareceremos com Deus, pois ele ama a todos sem distinção.

 

4.     A PIEDADE NO REINO – a ajuda ao necessitado, o jejum e a oração (Mt 6.1-21 e 7.7-12)

A ajuda ao necessitado - A justiça (boas obras), a esmola - A prática da ajuda ao necessitado deve ser regida por uma motivação correta. Às vezes podemos fazer a coisa certa com a motivação errada. - A ajuda em secreto promove recompensa (galardão) diante de Deus.

O Jejum - Deve ser para Deus não para exibicionismo pessoal ou autopromoção.

A oração Mt 6.5-15 – A maneira certa para orar

  • Orar com uma motivação correta
  • Orar sem usar fórmulas mágicas ou ritualísticas (vãs repetições)
  • Orar onde só Deus possa vê, sem holofotes voltados para si mesmo (tameion)
  • Orar de forma relacional, pessoal e íntima com Deus – Ele é o Pai
  • Orar com reverência – Ele é o Pai que está nos céus
  • Orar pela santidade do nome de Deus (honra) e a para sua vontade seja estabelecida na terra assim como acontece no céu
  • Orar pela vinda do Reino
  • Orar dependendo de Deus sabendo que Ele supre o necessário – pão, perdão e livramento
  • Orar de forma comunitária – Pai nosso, pão nosso, etc.
  • Orar movidos com o reconhecimento de quem é Deus, pois Ele é REI, PODEROSO E GLORIOSO (a Ele pertence o Reino, o Poder e a Glória)

5.      A PRIORIDADE NO REINO – DEUS (MT 6.19 – 21 E 24)

“Não ajunteis tesouros da na terra..., mas no céu” - O nosso maior investimento deve está na eternidade.

  • Onde nós mais investimos revelará onde está em nosso coração.
  • Não podemos servir a Deus e as riquezas, a ideia aqui não é possuir riquezas, mas é evitar que elas nos possuam, de modo que venhamos a ser controlados por elas e assim depender delas e não de Deus.
  • Aquilo que nos escraviza será sempre o que nos distancia do Senhorio de Deus (dinheiro, casa, fama etc).

6.      O CUIDADO DIVINO NO REINO – A PROVISÃO (MT 6. 25-34)

  • O cuidado de Deus parte do princípio da importância da vida. A vida é mais importante do que os fatores que a cercam, roupas, alimentos, aliás estes existem por causa da vida e não o contrário. Devemos ter cuidado para não contrariar os valores de Deus.
  • A vida humana é mais importante que os outros tipos de vida (vegetal e animal). Somos os seres mais valiosos da criação, e se Ele sustenta a criação quanto mais a nós.
  • A confiança nesse cuidado deve arrancar de nós toda preocupação.
  • Devemos descansar na certeza de que Deus conhece nossas necessidades.
  • Devemos viver o Reino na certeza de que o cuidado virá como consequência desta vivência.
  • Devemos lembrar que ele dará o que prometeu não o que queremos – “todas estas coisas vos serão acrescentadas”
  1. A POSTURA CERTA NO REINO – A ÉTICA (MT 7. 1- 6)

Não julgar indevidamente

  • Não está proibindo o julgamento em casos necessários (Mt 18.15-17; Jo 7.24; I Co 1-5)
  • Proibisse a crítica, a censura, o julgamento injusto que não leva em consideração as fraquezas próprias. 
  • Este tipo de julgamento traz julgamento para si próprio. Por isso, quem julga está em situação pior do que o que está sendo julgado.
  • Não considere o erro do outro antes de considerar o erro pessoal. Quem age assim é hipócrita, pois nem consertou seu próprio erro (trave) e quer concertar o erro do outro (argueiro).

 Não desprezar o que realmente tem valor

  • Não dá aos cães o que é santo – conceder aos ímpios o ensino do Reino de Deus quando estes o desprezam.
  • Não dá aos porcos as pérolas - Quando o cristão não valoriza o ensino da Palavra ou as coisas espirituais que lhes foram concedidas.
  1. A VERDADE NO REINO - A DOUTRINA (MT 7.15-23)

Cuidado com a aparência da verdade – os falsos profetas, pois:

  • Pode  ter palavra de profeta, sinais de profeta, mas não tem vida de profeta.

Cuidado com os frutos, pois:

  • Não é o que eles ensinam (profetizam) que fala mais alto, ou seja, mas aquilo que suas obras (seus ensinos) produzem, bem ou mal.
  • Não são os discursos bem elaborados ou as declarações de reconhecimento do Senhorio de Deus que fazem a diferença, mas a obediência a este Senhorio. 
  • Não são os sinais (expulsar demônios e milagres) que falam mais alto mais a obediência.
  • Não são os sinais que identificam Deus na obra, pois eles podem ser malignos ou fingidos.

 

  1. O FUNDAMENTO NO REINO - O ALICERCE (MT 7.24-29)
  • Ouvir e praticar devem estar juntos e não é somente uma questão de querer, admirar ou desejar praticar,  mas objetivamente praticar.
  • Quem age assim é igual a um homem prudente que edificou sua casa na rocha – prudente, pois analisou e viu que a melhor atitude a tomar era edificar uma casa que não caísse com as dificuldades da vida. O insensato não agiu assim.
  • O que faz a diferença na vida do discípulo é o alicerce no qual a casa está sustentada, pois a maior questão não é simplesmente de construção, mas de sustentação.
  • Podemos alicerçar as nossas vidas na prática dos ensinamentos de Jesus, pois a autoridade que Ele tem para ensinar vem do próprio Deus (28-29) e ninguém melhor do que Deus, que conhece a estrutura da casa, para saber onde ela pode está segura.

 

CONCLUSÃO

 

Soli Deo Gloria!! 

Miss Gilmara M. F. Diógenes