O Salmo 23 também tem vale!

O Salmo 23 também tem vale!

 

         O salmo 23 é umas das composições do livro poético dos Salmos universalmente conhecido e citado, isto é decorrente não somente de sua beleza artística em termos de sua natureza sublime, mas principalmente pelas verdades divinas que endossam suas estrofes, as quais se apresentam delineadas nos paralelismos que são típicos da estrutura da poesia hebraica. Este salmo tem servido de referência para edificar a fé de muitas pessoas, e é fato notar, que ás vezes, percebemos alguns usarem-no erroneamente até como uma espécie de amuleto. Mas a despeito disso, de fato este texto tem muito a nos instruir na medida em que entendemos as inúmeras aplicações e implicações elucidadas nele. 

         O salmo 23, composto por Davi, é mesmo uma declaração poética perfeita em se tratando das relevantes verdades espirituais elencadas nele. Este salmo pode ser dividido em duas partes, na primeira parte do texto (23.1-4), entendemos o cuidado de Deus sendo expresso na figura do relacionamento de um pastor com sua ovelha, e na segunda parte (23.5-6) observamos o relacionamento de um hospedeiro que acolhe seu hospede abrigando-o dos perigos que lhe cercavam. E assim, com essas duas metáforas, percebemos o Deus supridor que não deixa nada em falta na vida dos seus servos, de modo que este texto é conhecido como um salmo de confiança, pois revela este caráter provedor e mantenedor de Deus.

        Desta forma, Davi usa a metáfora do pastor, bem conhecida dele mesmo e do antigo oriente. Como também Davi conhecia muito bem a metáfora do hospedeiro, alguém que recebe em sua tenda e ainda prepara um banquete. Certamente Davi, não somente foi hospede, mas também, como um bom judeu deve ter assumido o papel de hospedeiro algumas vezes.

        Dentro da abordagem feita pelo salmista, o autor declara na metáfora do pastor, o Deus que é o provedor completo a começar do início de suas declarações, nas quais ele vai evidenciar o suprimento total na vida da ovelha, quando relata que o pastor conduz a sua ovelha a desfrutar de pastos verdejantes, e a se deliciar em águas tranquilas, aqui estão demonstradas as duas maiores necessidade de uma ovelha: pasto e água. E assim, Deus provê de maneira completa o suprimento do que se constitui as maiores carências da vida de sua ovelha.  O pastor também traz refrigério à alma, provavelmente a alma aflita, revelando que além das necessidades materiais o pastor contempla as necessidades imateriais.  E ainda conduz no caminho da retidão, evidenciando isso quando relata que ele é o responsável por direcionar a ovelhas pelas veredas da justiça, e assim, Ele também supre a necessidade moral dela.

        No segundo momento do salmo, Deus é tipificado na figura de um hospedeiro, que desta vez, protege o seu hóspede do inimigo abrigando-o em sua tenda, como ocorria no antigo oriente, e ainda prepara um banquete com abundância a ponto de até mesmo derramar azeite sobre ele demonstrando outra vez uma atitude de hospitalidade e amizade, pois nesta iniciativa o anfitrião promovia refrigério para seu hóspede. E além tudo isso, ainda o abençoa continuamente com bondade e misericórdia por todos os dias até os tempos eternos.

       Quantas verdades maravilhosas são relatadas neste salmo. Contudo, parece que nos esquecemos de um detalhe interessante, o verso 4. Você já tentou ler salmo 23 sem o verso 4? Solicito que você faça uma releitura do texto omitindo o verso 4. Depois leia somente o verso quatro separadamente. Em seguida leia todo o salmo. Depois volte a ler esse texto.

Entendendo os demais versos a luz das verdades outrora expostas, não seria perfeito se não houvesse o verso 4? Analisando-o na ótica humana de encarar o cuidado de Deus? Contudo, o mesmo Pastor supridor e mantenedor é aquele que também permite sua ovelha caminhar pelo vale, e não é qualquer vale, é o vale da sombra da morte. E assim, entendemos que no salmo 23 também tem vale.

         É necessário entender o que é um vale. Geograficamente falando, vale é uma depressão ou planície entre montes ou no sopé de um monte. Usando o vale como metáfora, o salmista coloca um relevo ainda maior sobre ele adjetivando este vale como “da sobra da morte”. Diante destas definições, entendemos que o vale também é uma realidade na vida da ovelha, mas há sublimes lições dignas de toda atenção que devem ser consideradas a luz das verdades apresentadas aqui:

 

No vale o pastor levará a ovelha aos montes (ainda que eu ande pelo vale...).

       

        Por meio desta expressão que introduz o verso 4, é notório perceber que o vale não era lugar de chegada na jornada que o pastor fazia com sua ovelha, mas era lugar transitório. Veja que o salmista diz “ainda que eu ande”, o que revela que este era lugar de passagem e não de destino, e é óbvio que depois da vale tem a montanha. Aqui é pedagógico compreender que o vale é o caminho para chegar aos montes, e que nesta caminhada, às vezes o Pastor precisa nos conduzir pelo vale, para que quando chegarmos aos montes, eles não possam governar o nosso coração, pois no vale o Pastor já nos lapidou o suficiente para sabermos lidar com a nossa chegada aos montes.

 

No vale a ovelha não está só, o pastor está presente. (Tu estás comigo)

 

        Oh que Pastor maravilhoso que não permite sua ovelha andar no vale como forma de abandono. Pelo contrário, Ele está e se faz presente e sua presença é percebida gerando confiança e segurança mesmo em meio a sombra da morte. De forma que a ovelha não se sente apavorada, mesmo encarando o perigo de um dos seus maiores inimigos: a morte. O verdadeiro Pastor nunca deixa sua ovelha a mercê do desamparo, porque Ele mesmo é o seu companheiro presente em todo e qualquer momento. Nas horas mais cruéis da vida nem sempre contamos com o auxílio das pessoas que dizem nos amar, mas com o supremo Pastor não é assim, pois nessas horas Ele encontra o momento mais oportuno de demonstra o seu perfeito amor.

       

No vale o pastor guardará a ovelha (Tua vara... me consolam)

       

        Dois instrumentos eram usados de forma elementar pelo pastor: a vara e o cajado. A vara servia para livrar a ovelha dos inimigos, e desta forma o salmista diz que esta vara é consoladora, pois ela é o símbolo da proteção do Pastor sobre a ovelha. O vale é lugar de muitos perigos, inimigos ferozes, lobos, e outros podem ser verdadeiros adversários que surgem na caminhada pelo vale, mas em meio a isto o Pastor está presente com sua vara para livrar guardando sua ovelha de todos os possíveis males que possam lhe atingir.  E é esta certeza deste imenso cuidado que faz com que a ovelha atravesse o vale não em agonia e angústia, mas em consolo.

 

No vale o pastor trabalha no caráter da ovelha (... e o teu cajado me consolam)

 

       O vale também é um lugar onde o Pastor trata com a ovelha. Como falamos anteriormente, o cajado era outro instrumento do pastor. Era com esta ferramenta que o pastor conduzia suas ovelhas para que estas não se desviassem do caminho e assim perdessem em meio a jornada, sendo assim, o cajado demonstra o trabalhar do Pastor na vida da ovelha que é tão necessário para ela. O supremo Pastor expressa seu enorme e incomparável cuidado na vida da sua ovelha, direcionando e às vezes até disciplinando com seu cajado, a fim de que ela permaneça no caminho que a levará onde o Pastor tem panejado para ela chegar.

       

        E assim, que possamos ler o salmo 23 sem esquecer o vale e a importância dele em nossa vida, para que possamos conhecer o salmo do Pastor e o Pastor do salmo na certeza de que Nele sempre teremos o suprimento que tanto precisamos conforme o cuidado que Dele concretamente experimentamos até mesmo em meio aos momentos mais indesejáveis da vida.

 

Miss Gilmara M. F. Diógenes 

17/08/2012

 

*Missionária Gilmara Maria de Freitas Diógenes é missionária e professora de Teologia de diversas cadeiras a cerca de 15 anos, já atuaou em várias intituições teológicas no Brasil, também trabalha com palestras, estudos e ministração da Palavra.

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